Caminhos

Caminhos
Porque não pode haver outra forma senão a de existir tal como somos...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

JANELAS

Hoje ao passar por uma rua pacata da minha cidade, detive-me nesta janela. Gosto de janelas, que tal como as portas, são passagens para o exterior, para o mundo. É por dentro da minha janela e para lá da minha janela que escrevo e me inspiro. À janela esperamos ver, com o nosso olhar indiscreto, os interiores das casas, quando não há cortinas que resguardam dos olhares; vasos com flores, de preferência sardinheiras de cores fortes; velhinhas a apanhar sol e a observar quem passa; e gatos, claro! Esta janela deteve-me, não porque deveria ser de madeira, mas por ter dois gatos, porque gosto de gatos. Ambos amarelos, coincidência que tornou o quadro mais bonito de admirar. Bati no vidro, para captar os olhos do mais molengão e vislumbrei um ligeiro abanar da cortina. Alguém me terá visto e não se mostrou, mas também não me interceptou na indiscrição da foto. Imaginei uma velhinha bonacheirona e bondosa, a viver sozinha na companhia dos dois gatos que lhe alimentam a solidão da velhice, com a ausência de palavras amargas de ingratidão ou cansaço. Imaginei a velhinha sentindo-se prestável para os dois animais, alimentando-os com ternura e mimo. Uma senhora passou na rua, observou a minha atitude e logo encetámos uma conversa curta sobre gatos. A senhora seguiu o seu caminho e cruzou-se com um gato cinzento, sem dono possivelmente, a julgar pela aparência, que mansamente sentado nos olhava. Na rua não estava mais ninguém. Segui também o meu caminho, de alma cheia por um momento tão insignificante, mas tão rico, para mim, de conteúdo. 


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

NATAL

a ilusão cresce nas montras
presa nas bolas coloridas das árvores
abundam e brilham corações e estrelas
misturam-se figuras cristãs e pagãs
e há um fio que nos prende
e nos deixa suspensos entre a terra e o céu
e nos leva os nervos
para a terra passageira dos sonhos
natal dos ímpios e dos impuros
que lavam a cara no mar do lucro
Jesus morreu
mas os sinos repicam
os anjos embebedam-se
de verde vermelho e dourado
de fitas e laços
e cantam
glória a Deus nas alturas
e paz na terra aos homens de boa vontade
as mãos estendidas dos pedintes
sorriem de esperança
ao dia da sopa quente a chegar